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Liberdade Assistida recupera auto-estima de adolescentes que cometeram ato infracional

CRP-SP

Notícia, inserida no site do CRP-SP, sobre o tema Liberdade Assistida, com a colaboração do Prof. Fábio Silvestre Silva, Professor Convidado da Disciplina Complementar, no Curso de Especialização em TCC com Crianças e Adolescentes, sobre o tema: "Direitos da Criança e Adolescente e Deveres Éticos dos Psicólogos e outros Profissionais de Saúde Mental".

Um mundo melhor é possível: Liberdade Assistida recupera auto-estima de adolescentes que cometeram ato infracional

Uma das seis medidas sócio-educativas previstas pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) para recuperar adolescentes que cometeram atos infracionais, a Liberdade Assistida vem se mostrando, aos poucos, instrumento eficiente na recuperação destes adolescentes. O viés tem sido trabalhar a auto-estima e o potencial de cada um deles de maneira criativa e adequada. E os psicólogos aparecem como profissionais de importância estratégica na ressocialização de adolescentes em conflito com a lei.

Fábio Silvestre Silva, pós-graduando em Psicologia do Esporte e coordenador do projeto de L.A. do Centro de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente de Interlagos (Cedeca), desenvolveu, este ano, com apoio da iniciativa privada, um programa em que adolescentes em Liberdade Assistida cumprem sua pena não nos pátios da Febem, mas no campo de futebol. Trata-se da primeira pesquisa e experiência feita no Brasil em que esse esporte é usado como medida sócio-educativa.

São 30 jovens, entre meninos e meninas, que comparecem todas as quartas-feiras aos campos de futebol do Sesc Interlagos, parceiro do Cedeca.

Os Centros de Defesa estão dentro da política de atendimento prevista pelo Estatuto da Criança e do Adolescente. Cada um tem sua autonomia, mas relaciona-se no âmbito nacional. No município de São Paulo, existem dez centros. O de Interlagos atende 250 jovens, todos moradores da Capela do Socorro, região considerada vulnerável pelos altos índices de violência.

Apesar de o programa estar em sua 8ª semana, Fábio garante que os resultados qualitativos já estão aparecendo e são os melhores possíveis. Ele conta que geralmente os adolescentes chegam ao Cedeca humilhados e desconfiados. Nesses dois meses, o diálogo já flui e começam a demonstrar suas necessidades. "O segredo está em trabalhar a emoção desses meninos. Fugir do método tradicional em que a conscientização é feita pela razão", ensina Fábio.

Na partida de futebol, o menos relevante é aprender a jogar bola. Fábio explica que a idéia é pegar situações de jogo e transferir para a vida de cada um. Àquele, que tentou sem sucesso resolver sozinho uma jogada, vão ser mostradas as desvantagens de fazer as coisas sem a ajuda de ninguém, ignorando as pessoas ao redor.

Segundo o coordenador, essa transposição tem surtido efeito. Os jovens começam a entender os benefícios de se viver em grupo, respeitando um ao outro, como se tornar um líder, como fazer uma mobilização social e como isso pode ser revertido positivamente para suas comunidades. "Trabalhamos para que eles possam ser atores de suas próprias vidas. É o que chamamos aqui de protagonismo", ressaltou.

O jovem D.C.O, 18 anos, diz ter "melhorado como pessoa" após ter entrado no projeto. "Depois que comecei a jogar futebol, aprendi a ser mais equilibrado, a ter união, a respeitar e dar valor à liberdade. Acho que os meus amigos também devem sentir o mesmo".

Além do prazer em praticar o esporte, para Fábio, a chave dos saldos positivos está em mexer com todas as emoções e frustrações desses adolescentes. Segundo ele, quando o emocional é mais trabalhado do que o racional, a pessoa tende a responder melhor, pois os sentimentos são as principais diretrizes do homem. Na Febem, os adolescentes foram totalmente privados de se expressar. "Lá a gente apanha por tudo e de todos. Apanha de madeira, do que tiver na mão. E se falar, chorar ou reclamar, apanha mais ainda", revelou C.H.T, 17 anos.

A aplicação da psicologia na Liberdade Assistida procura trabalhar o desenvolvimento humano. Discutir o que é adolescer, a vivência e os sentimentos de cada um. Conforme Fábio, não é jogando informação de maneira vertical que os jovens vão entender e aplicar valores em suas vidas. A vivência e a política da autonomia surtem mais efeitos na vida dos jovens que a atual política pedagógica da Febem que é da contenção e agressão.

O psicólogo e especialista em Educação Social, Arthur Adauto Souza, que trabalha com adolescentes em Liberdade Assistida, na cidade de São Carlos, diz que a punição só gera a construção de mais presídios.

Em convênio com a Febem e os Salesianos, uma congregação da igreja católica que desempenha trabalhos com jovens da periferia, Arthur acompanha 140 jovens em três programas que envolvem emoção e raciocínio: orientação sexual, escultura em concreto celular e produção de curtas-metragens. O último é feito em conjunto com alunos do último período do curso de Imagem e Som da Universidade Federal de São Carlos (Ufscar).

A arte foi a maneira encontrada pelo psicólogo e sua equipe para sensibilizar e conscientizar os adolescentes. Arthur se orgulha em dizer que graças à introdução da arte-terapia e todos os outros projetos desenvolvidos pelo programa, em 2001, o número de reincidência de jovens infratores caiu 50%. E entre as três atividades atuais, a escultura em concreto celular é a que tem trazido resultados mais significativos.

Nesse projeto, é feito um paralelo entre a lapidação (processo de transformação) e os sentimentos dos adolescentes. "Inconscientemente, os meninos acabam projetando na pedra todas as suas emoções. Eles exteriorizam sua criatividade, seus medos, sua imaginação. A partir daí, desenvolvemos a promoção da auto-estima e o potencial de cada um", conta.

Segundo ele, os bons resultados são evidentes. Os jovens ficam mais críticos, se conhecem, se respeitam mais e se colocam em condição de dignidade. Além disso, com o tempo, conseguem equilibrar razão e emoção. Para Arthur, o trabalho do profissional de psicologia é justamente buscar esse equilíbrio. "O nosso único problema é que depois de seis meses, muitos não querem ir embora. Deveria existir um programa pós Liberdade Assistida", sugeriu.

A tendência é que cada vez mais psicólogos venham a criar e participar de projetos como este. Mas tanto para Fábio como para Arthur, isso só será possível se houver mais investimentos privados e governamentais.

Fonte: site CRP-SP
http://www.crpsp.org.br/crp/midia/jornal_crp/136/frames/fr_um_mundo_melhor.aspx. < ver mais artigos
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